quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mais visibilidade mundial


Pesquisadores apontam posição de destaque na produção científica brasileira em algumas áreas da medicina, mas destacam que, no geral, país precisa investir e produzir muito mais (Wikimedia)

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – O Brasil ocupa a 14ª posição entre os países de maior produtividade científica, segundo os dados mais recentes do ranking SCImago, índice que leva em conta o número de publicações (o país registrou 34.145 em 2008), documentos citáveis (32.829) e citações (38.237).

Na lista, o Brasil figura atrás de países desenvolvidos, como Estados Unidos (1º), Inglaterra (3º), a Alemanha (4º) e Japão (5º) e também de economias em desenvolvimento, como a China (2º lugar) e a Índia (10º). Está uma posição à frente da Rússia (15º), outro dos quatro países que formam os Brics.

“Entre os Brics, a China foi a única que mostrou um crescimento explosivo em termos de produção científica, registrando mais de 230 mil publicações em 2008”, disse Manoel Barral-Netto, professor da Universidade Federal da Bahia, na semana passada durante a conferência “Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe”, realizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.

A mesa que tratou da área de Ciências Biomédicas reuniu, além de Barral-Neto, Jorge Kalil (professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Laboratorio de Imunologia do Instituto do Coração) e Sergio Costa Oliveira (professor da Universidade Federal de Minas Gerais), que traçaram um panorama da produção científica brasileira atual, especialmente em medicina.

Diferentemente da produção científica total, em algumas áreas de medicina o Brasil se destaca no ranking SCImago. Na categoria Doenças Infecciosas, por exemplo, ocupa o 4º lugar (com 328 documentos), atrás apenas dos Estados Unidos (com 1.583), Reino Unido e França. Em Anatomia, está em 9º e em Cirurgia, em 8º

No campo da Imunologia e Alergia, no entanto, o Brasil está na 13ª posição. Segundo os especialistas da área reunidos na ABC, a razão para esse quadro é a falta de investimentos.

“O Brasil investe pouco e tem ainda um longo caminho em relação a pessoal para fazer ciência, especialmente em áreas como a imunologia”, disse Kalil.

No país, as áreas que contam com um maior número de artigos científicos publicados, de acordo com a Thomson Reuters, são: Medicina Clínica (35.214 artigos), Química (19.929), Física (19.243) e Biologia e Bioquímica (11.173). Os artigos brasileiros são mais representativos em Agronomia e Veterinária (3,07% do total mundial), Física (2,04%), Astronomia e Ciência Espacial (1,89%), Microbiologia (1,89%) e Ciências de Plantas e Animais (1,87%).

Em relação ao número de pesquisadores por habitantes, o índice, apesar de maior que em passado recente, ainda pode ser considerado baixo se comparado a outros países. Segundo o Relatório Unesco sobre Ciência 2010, feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, cujos dados foram destacados na conferência da ABC, o Brasil tem cerca de 650 pesquisadores por milhão de habitantes. O Japão, para efeito de comparação, tem mais de 5,5 mil por milhão.

“Apesar de o Brasil ter conseguido aumentar o número de novos doutores formados para 12 mil ao ano, o país ainda enfrenta uma situação de carência. No passado esse número era ainda menor, mas não podemos nos dar por satisfeitos”, disse Barral-Netto à Agência FAPESP.

Segundo ele, o país precisa melhorar a visibilidade internacional de sua ciência. “Em algumas áreas, tais como as biomédicas e as doenças infecciosas, nossa produção está entre as mais altas do mundo, mas o investimento em tecnologia e no número de pesquisadores é muito baixo se comparado ao dos países desenvolvidos. Esse investimento tem que crescer se quisermos alcançar um papel de destaque na ciência e tecnologia mundial”, disse o também pesquisador do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (Fiocruz).

De acordo com dados apresentados por Barral-Netto, o Brasil enfrenta ainda outro grande desafio no nível da graduação: em 2008, apenas 16% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam matriculados no ensino superior. “Tal número precisará triplicar se o Brasil quiser alcançar um nível competitivo internacionalmente”, disse.

Na América Latina, de acordo com os ranking de produção científica mencionados na conferência, o Brasil sozinho produz mais que a soma de todos os outros países latino-americanos juntos. No cenário nacional, a maior parte da produção está no Estado de São Paulo.

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